Revelando um filamento da rede cósmica

Haverá uma teia invisível de matéria escura à nossa volta? Apesar da sua influência poder ser observada em todo o cosmos, a teia permanece essencialmente invisível. Esta Fotografia da Semana mostra a imagem mais nítida de sempre de um filamento da teia cósmica, obtido com o Very Large Telescope (VLT) do ESO e que nos aparece aqui a roxo sobreposto a uma imagem de fundo capturada pelo Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA. Constituído de gás aglomerado por influência gravitacional da matéria escura, este filamento estende-se ao longo de 3 milhões de anos-luz, ligando duas galáxias distantes do Universo primordial.

Cerca de 85% de toda a matéria do Universo é, na realidade, matéria escura. Esta matéria é invisível, mas o gás que a rodeia não o é. No entanto, este gás brilha de forma extremamente ténue, o que torna estas estruturas muito difíceis de observar. Apesar disso, após cerca de 150 horas de observações, uma equipa de astrónomos liderada por Davide Tornotti, um estudante de doutoramento da Universidade de Milão-Bicocca, em Itália, conseguiu obter esta imagem bastante nítida de um filamento cósmico, graças à sensibilidade excecional do instrumento MUSE montado no VLT, que se tornou o instrumento perfeito para obter imagens da rede cósmica.

A luz deste filamento levou 11 mil milhões de anos a chegar até nós, e mostra exatamente o que a teoria previa. No Universo primordial, os filamentos de matéria escura devem ter criado uma grande teia onde o gás ficava preso devido à atração gravitacional exercida por esta matéria. Uma vez acumulado nas interseções entre filamentos, o gás terá fornecido o combustível necessário para formar galáxias. À medida que vamos observando mais destes filamentos misteriosos, o que será que encontraremos ainda preso nesta teia escura?

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• Artigo científico na revista Nature Astronomy